E no escuro nos embalamos na rede, eu no meio, Carlos e Maria, cada qual num lado. Os dois fazem travesseiros dos meus braços e se olham apaixonados. Ele, pequeno, pega no cabelo da irmã. Ela, já quase grande, me olha com o rabo do olho, cheia de orgulho.
A rede geme e eu gosto. Acho que eles gostam também pois não reclamam. Mas meu pai não gosta e entra no quarto sem falar nada, com um vidro de Óleo de Máquinas Singer nas mãos, e cala a rede. E não consigo mais juntar o compasso do que canto com a cadência da embalada.
Hoje os dois resolveram lutar contra o sono. Ele fala todo o seu pequeno vocabulário de umas vinte e tantas palavras antes de dormir; ela me corrige quando troco os versos das músicas, até que se irrita e resolve cantar no meu lugar.
Por fim, dormem. Eu já estava nas músicas tiradas do fundo da memória, quase chegando aos gemidos de músicas que não lembro a letra. E no balanço já sem força da rede, com meus filhos deitados no meu peito, as pernas por cima de mim como se para me agarrar mais, lembro da minha infância e sinto vontade de chorar. A felicidade de ter tido quem me embalasse em uma rede; de ter tido quem me fizesse dormir ensinando músicas bonitas; de ter tido quem me permitisse olhar apaixonado meu irmão mais novo.
Por tudo isso sinto vontade de chorar, mas não choro! Afinal, foi um trabalhão fazer dormir esses dois e não quero que eles acordem!
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Olá, querida Gerliane
ResponderExcluirOntem, meu filho me pediu pra cobri-lo, cuidar dele, preparar pra ele dormir... coisa rara pois tem 40 anos... o carinho materno não abrange só a infância, deve se estender até o fim...
Bjm fraterno de paz e bem
Oi Rosélia, para nós eles serão sempre bebês não é? Obrigada pelo carinho
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